sábado, 26 de março de 2011

O curriculo escolar











O Currículo Escolar numa Perspectiva Libertadora


Ana Maria de Oliveira Céo¹


“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão”


Resumo: O presente artigo trará reflexões acerca da educação como prática da liberdade. Para tanto parte-se de uma revisão bibliográfica da obra de Paulo Freire, a qual apresenta dimensões da relação entre atores sociais por libertar-se da situação na qual se encontra. Portanto o objetivo deste trabalho é analisar as contradições opressor/oprimido, a relação do dialogo e da educação como prática da liberdade, como instrumento que fortalece uma destas dimensões.

Palavras – chaves: Pressão, oprimidos, libertação, currículo escolar.


Introdução

Nos últimos anos há uma grande necessidade de se refletir sobre a situação do individuo na sociedade atual. Percebemos que a maioria das discussões perpassa pela necessidade de nos libertarmos de uma condição na qual somos dominados por um sistema que por muito tempo impõe suas ideologias. Será que a educação escolar dará conta dessa libertação? Quais os fundamentos de um currículo escolar numa perspectiva libertadora?

Ao constatar que a sociedade se divide em classes, mais especificamente em opressões e oprimidos, percebe-se que existe uma luta que deverá ser travada, de libertar não só os oprimidos, mas também os que oprimem de sua ação perversa. Portanto, há duas situações diferentes de posição a serem analisadas.

Segundo Paulo Freire (1987)



Os opressores falsamente generosos têm necessidade para que sua “generosidade” continue tendo oportunidade de realizar-se, da permanência da injustiça. Quem melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá melhor que eles os efeitos da opressão? Quem mais que eles, para ir compreendendo a necessidade de libertação. (Freire, p. 31, 1987)


É esta situação paradoxal entre opressor/oprimido que vivenciamos no contexto histórico atual. Observa-se que a libertação do individuo quanto à manipulação não requer mudanças de papeis, de oprimido a opressor. O que está em questão é a superação através da ação, sujeito/mundo que venho transformar esta realidade; na qual as ações atendam a todos, ou seja, a busca pela coletividade, como afirma Freire (1987) “Não há um sem o outro, mas ambos em permanente interação.”

Essas ações dentro da sociedade devem ser feitas a partir da reflexão, da mediação, da interação entre os seus sujeitos, principalmente nas relações educador-educandos. Não se concebe mais participa formação do individuo que não se reconheça como ser parte da história que vivencia; A idéia de uma educação que faz do educando um deposito é ultrapassada. Por isso, necessitamos de sujeitos que pensem, atuem e que lutem quando se sentirem oprimidos, manipulados, impedidos de pensar.

Partindo deste principio, observamos que há uma urgência de mudança no processo pedagógico, na construção do currículo escolar e no educador. Mesmos cientes que o que estamos discutindo neste momento não é algo novo, vem se discutindo estas questões a muito tempo. Segundo Freire:

Se pretendemos a libertação dos homens não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autentica, é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante: É práxis, que implica ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.   (FREIRE , p. 64)


É importante ressaltar que uma educação que concebe o sujeito do processo educativo um deposito de conhecimentos e um depositante destes conhecimentos, está muito aquém de seu objetivo de libertação de opressão da classe dominante. É preciso refletir que as praticas educacionais que ainda vem sendo desenvolvidas no espaço escolar, precisam ser repensadas se almejamos mudanças, por isso, precisamos repensar o currículo escolar e o fazer pedagógico, que são desenvolvidos na escola.

Altusser (1983) afirma que a escola constitui-se um aparelho ideológico central das idéias capitalistas de opressão, porque atinge praticamente toda população por um período prolongado de tempo e essas ideologias são repassadas através do currículo escolar; através das disciplinas trabalhadas no processo educativo.

Com essa afirmação constatamos que a escola vem cumprindo muito bem sua função de aparelho ideológico ao longo dos anos, e continuará por muito tempo se a educação e os currículos escolares não forem analisados, interpretados e modificados. Para tanto, propomos um novo olhar, novas reflexões a respeito do currículo escolar e da relação entre educador/educando constituídos ao longo do tempo.

Relação educador / educandos


Compreendemos que, para entendermos a questão do currículo escolar, faz-se necessário neste momento analisar alguns aspectos da relação educador/educandos. Por mais que tentamos trazer reflexões acerca dessa relação, percebemos que ainda estão enraizados no cotidiano escolar praticas educativas que distanciam tanto educadores, quanto educandos da realidade onde estão inseridos. Na concepção que Freire (1987) define como “bancaria”, porque o conhecimento é depositado, o educador ao invés de comunicar, faz comunicados. Percebemos que o papel do educador nesta perspectiva é alienar os educandos, impossibilitando-os de sequer perceber a sua condição de alienado. Como conseqüência disso, é que estamos diante de uma sociedade reprodutora e de indivíduos incapazes de interpretar a sua própria vida.

Partindo desse pressuposto, é necessário trazer à compreensão, que o currículo que vem sendo aplicado nas Instituições de ensino ainda é algo pronto, acabado, elaborado para garantir que as ideologias existentes sejam repassadas para os sujeitos, como uma forma de dominação. Os conteúdos programáticos nada mais são do que roteiros organizados, que deverão ser memorizados e arquivados por educadores e educandos. É improvável querer sujeitos criativos. transformadores, conhecedores, se o currículo que se desenvolve nas escolas não forem repensados  ou  modificados e se as relações entre educador/educandos, e a educação ainda se faz como deposito de conteúdos.

Currículo escolar repensado sobre uma nova perspectiva.

Segundo Freire (1987), “A educação que se compromete com a libertação, não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios”, a qual o mundo “encha” de conteúdos”.

Em outras palavras, o educador deve levar em consideração que está lidando com sujeitos pensantes, com saberes próprios, e que através da interação, a intercomunicação entre os sujeitos, que iria possibilitar a superação do estado de inércia impostos pelas ideologias existentes, na qual ambos possam superar as contradições existentes na sociedade.

Quando falamos do currículo escolar, e da necessidade de se fazer modificações a partir de uma perspectiva libertadora, devemos considerar que tipo de ser humano desejamos formar na sociedade do século XXI, na escola capitalista brasileira. Temos dois caminhos: ou continuamos alienando-os, ou formamos pessoas capazes de pensar a realidade social, de analisar de forma crítica as suas relações com o mundo e apropriando-se dela como realidade histórica.

Na visão de Pistrak (2000), os objetivos gerais da educação o individuo deve ser orientado a participar do trabalho social de forma ativa, consciente e socialmente esclarecido e deve dotá-los de princípios que lhe possibilitarão uma avaliação moral da sua própria pessoa enquanto membro da sociedade.

Diante disso não há produção de conhecimento se a educação não cumprir o seu papel de promover mudanças significativas no espaço pedagógico e social. Portanto, a forma como esse conhecimento é produzido no espaço escolar, à maneira como a relação professor/aluno é conduzida, se é através do dialogo ou não é que irá fazer com que os sujeitos mediados se apropriem da realidade histórica. O currículo escolar a ser desenvolvido na escola deverá conceber a dialogicidade entre os sujeitos do processo educativo. É necessária essa consciência da relevância da interação educador-educando. Como salienta Freire (1987) “Educador já não o que educa, mas o que enquanto educa, é educa, em diálogo com o educando que ao ser educado também se educa”. Nessa nova perspectiva que é proposta por Freire, uma perspectiva libertadora ou problematizadora, os conteúdos programáticos proposto no currículo, deve partir de um tema gerador e deveria ser realizado por meio de uma metodologia crítica, conscientizadora, através das experiências vivenciadas pelos educandos. É a participação dele que irá definir a construção desse conhecimento, pois o mesmo precisa se ver participante, atuante no processo ensino-aprendizagem, o que é o oposto ao que propõe a educação “bancaria”.

Sob está nova perspectiva de educação, da pratica da liberdade, o sujeito é co-laborador da sua libertação. É através da sua consciência crítica, certo do seu poder de transformação que o mesmo se fará histórico.

Portanto, rever a questão do currículo escolar é um ponto extremamente relevante para mudanças de paradigmas existentes na sociedade capitalista. A escola atua ideologicamente através do currículo (Silva, 1992). É preciso mudar...

Considerações finais

A epígrafe que inicia este artigo abre um leque de reflexões e enfatiza a superação do homem a partir da reflexão e da ação. Somente na ação da coletividade, na luta, que pode se possibilitar ou se questionar a libertação do sujeito dentro da sociedade capitalista do século XXI. Pelas reflexões que deixamos aqui registradas, pensamos ter sido possível compreender que a perspectiva de uma ação libertadora, é permitir que os sujeitos através da ação da prática cotidiana, nas relações homem/mundo se tornem independente, pois não pode haver libertação se o individuo (home, sujeito e educando) não se reconhecer dentro do processo histórico que se insere.

“A libertação dos oprimidos é a libertação dos homens, portanto, necessita em primeiro lugar de uma auto-libertação”. (Freire, 1987).

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¹Graduanda do curso de Pedagogia Docência de Gestão e Processos Educativos – IV Período

Referencias Bibliograficas


FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987

PISTRAK. M. M. Fundamentos da Escola do Trabalho / Pistrak; Daniel Aarão Reis Filho – 1º Edição – São Paulo: Expressão Popular: 2000.

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